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"O espaço de banho tem vindo a ganhar protagonismo"

A Sanitana lança, com esta conversa com o arquitecto Nuno Brandão Costa, um conjunto de entrevistas que visa traçar uma visão profissional sobre o estado da arte da Arquitectura dos espaços de banho. O jovem arquitecto do Porto acredita que, com o foco de novo na arquitectura, “voltámos à casa de banho do início do século, grande, mas com zonas segmentadas”, neste espaço que tem vindo a ganhar protagonismo

Os espaços de banho são hoje tão importantes como qualquer outra divisão da casa, aliando funcionalidade a bem-estar. Como é que vê a evolução da arquitectura destes espaços de design?

A minha experiência com os muitos clientes que solicitam casas privadas leva-me a crer que as pessoas dão actualmente uma grande importância ao espaço de banho. Provavelmente outrora não o faziam. Nota-se o empenho dos clientes, sobretudo na casa de banho principal ou na suite, no caso de se tratar de um casal. Hoje centra-se uma atenção muito grande no desenho, isto é, na área destes espaços. Já ninguém quer uma casa de banho pequena.

Valoriza-se mais a funcionalidade ou as questões estéticas e de bem-estar?

Antes de mais, valoriza-se a área, como disse. E agora há uma tendência crescente para segmentar essa área em várias zonas, como a zona da sanita e do bidé, a zona do lavatório e do espelho e a zona de banho - onde muitas vezes se opta por ter não apenas uma banheira, mas esta e uma base de chuveiro ou, em alternativa, uma área de chuveiro muito grande. Mas é preciso dispor de uma área relativamente maior que os tradicionais quatro metros quadrados para criar esta organização na casa de banho. Outra questão valorizada é a do acabamento, ao nível de revestimento e escolha das peças, as quais concentram alguma atenção, para não dizer muita.

Antigamente a casa de banho era um espaço trivial. Julgo que esta evolução tem que ver com dois factores: hoje as pessoas encaram este espaço não apenas como uma zona funcional de higiene, mas como um local onde passam algum tempo de manhã e à noite. É também um espaço da casa onde se está, portanto, tem de incluir características de conforto. Por outro lado, o espaço de banho tem vindo a ganhar protagonismo. Actualmente qualquer revista ou jornal têm uma rubrica reservada ao bem-estar, onde são divulgadas as tendências para estes espaços; as pessoas são sensíveis a essa informação e quando chega a altura de fazerem as suas próprias escolhas têm isso em conta. Pessoalmente, defendo que todas as áreas da casa devem receber uma atenção homogénea. A casa de banho não deve ser desenhada como uma extensão da casa, mas também não deve ser de uma qualidade muito superior às restantes divisões. Tem de haver um equilíbrio.

Luz natural, design, soluções funcionais... Que elementos são hoje imprescindíveis num espaço de banho?

É evidente que uma casa de banho com luz natural é sempre mais agradável, mas esta nem sempre é possível. Nesses casos, pode-se compensar a sua falta com soluções como clarabóias ou lanternins. Tão importante como a luz natural é a concepção da luz artificial na casa de banho. A utilização deste espaço é muitas vezes feita à noite ou de manhã cedo, sem luz natural, e requer uma boa iluminação. A luz artificial não deve ser excessiva, para não causar desconforto, mas também não deve criar uma penumbra. Além disso, deve estar integrada no desenho da casa de banho no seu todo, bem como com os materiais que se escolhem para o revestimento e com as cores das peças sanitárias.

Existe uma preferência por elementos cada vez mais sofisticados, incluindo nas peças sanitárias?

Há uma escolha cuidada dos revestimentos e das peças sanitárias. Já desenvolvi projectos para os quais desenhei lavatórios e banheiras e depois escolhi as torneiras. Hoje em dia temos uma oferta enorme, cada vez mais sofisticada e por vezes mais dispendiosa também, dependendo do orçamento que existe para a obra. Mas é sempre possível realizar projectos com qualidade com preços mais em conta. As próprias marcas, por exemplo a Sanitana, têm linhas acessíveis.

Qual é a peça sanitária a que os seus clientes dão mais importância?

Muitas vezes começam por escolher o lavatório. A par da banheira, é a peça sobre a qual as pessoas têm mais exigências. Já me aconteceu diversas vezes desenhar estas peças, em escalada de mármore ou para integrar numa bancada... No que concerne sanitas e bidés, quase sempre se opta pelas peças com desenho mais simples e não muito grandes, por questões de higiene e para não terem tanta presença no espaço.

Os meus critérios de escolha são sempre a simplicidade e a dimensão. Mas os clientes não são tipificados, nunca me apareceram dois projectos iguais. Cada cliente quer a sua casa. Nos edifícios públicos a arquitectura é mais tipificada, tudo tem de ser funcional e prático.

De referir ainda a difícil questão dos armários nos espaços de banho. Procuro sempre soluções para o integrar numa parede, evitando colocá-lo debaixo do lavatório, porque considero que a maior parte destas soluções condicionam e retiram leveza à peça. Aproveito para fazer um armário muito maior, alto e integrado na parede com um revestimento semelhante ao da restante área, em mármore ou vidro, por exemplo. Hoje em dia este espaço é um sistema complexo que integra todas estas valências.

Nos seus projectos escolhe marcas de peças sanitárias específicas ou procura pela tipologia certa para cada obra?

Não escolho pela marca, escolho pela simplicidade e pela dimensão da peça. Procuro o mais simples possível.

É verdade que os construtores sentem que têm sempre uma palavra a dizer sobre as ideias dos arquitectos, por exemplo na escolha das peças sanitárias?

O construtor tem de cumprir o que está no caderno de encargos, portanto para mim a questão nem se coloca. Julgo que essa tentativa de interferir não se verifica muito nas obras privadas, até porque o construtor também quer satisfazer o seu cliente. Também faço obras públicas e, nesse caso, é preciso estar sempre em cima da obra, ou ir para lá acampar, como eu costumo dizer.

O mais trabalhoso na arquitectura não é o projecto, é a obra. É dela que depende o sucesso, pois o projecto tem de estar bem elaborado, bem orçamentado e conter todos os detalhes no caderno de encargos, mas se a seguir não se acompanhar a obra, provavelmente têm-se surpresas. É necessário estabelecer ao longo do processo uma base de diálogo e de confiança com o construtor e com o dono da obra. Em todos os casos, a tentativa deliberada de alterar as escolhas que constam no caderno de encargos para obter benefícios financeiros não me parece que seja, sequer, justa.

Que materiais utiliza, preferencialmente, nos espaços de banho?

De um modo genérico, os que mais utilizo são o mármore e o azulejo. Se possível, proponho o mármore, porque é um material eterno, uma pedra natural que não tem manutenção e que fica sempre bem. Na casa de banho geralmente utilizam-se em pedras muito claras e assim a claridade do material introduz uma cor natural única num espaço geralmente pequeno e com pouca luz. Quando não há orçamento para o mármore, opto por materiais tradicionais, como o azulejo 10x10, os mosaicos hidráulicos ou as marmorites. Quando posso, vou para o mármore e para uma solução que funciona muito bem: paredes em azulejo com as tradicionais louças em cerâmica branca e pavimentos em mosaicos hidráulicos ou marmorites. No fundo, revisito a casa de banho antiga.

É evidente que há excepções. De momento estou a fazer uma casa em que o revestimento interior do espaço de banho é todo em vidro branco, incluindo as paredes. Trata-se de um pedido do cliente e julgo que vai resultar muito bem.

Para lá dos materiais de base, que estilos privilegia (minimalista, depurado, cores ousadas, looks futuristas) e como encara a mistura de tendências?

O que privilegio é uma total homogeneidade nos espaços entre os materiais e as cores utilizadas. Se fizer uma casa de banho em mármore, utilizo as mesmas pedras para as paredes e o pavimento. Se fizer em azulejo, uso a mesma cor para os vários revestimentos e escolho cores claras, como cinzas e beijes, mas evito o branco porque é uma cor muito fria. As cores escuras e fortes retiram muita luz e cansam. As áreas geralmente não são muito grandes e não aguentam grande variedade de texturas, por isso evito misturas.

Considera que as principais marcas que actuam hoje no mercado nacional acompanham as novas tendências dos consumidores, como ter um mini-spa no espaço de banho?

As tendências são globais, eu uso as marcas nacionais primordialmente e encontro as respostas que preciso. Por vezes a escolha é até difícil porque há muita oferta. Penso que as marcas portuguesas acompanham a evolução que se tem dado na arquitectura destes espaços e estão muito actualizadas, não faz sentido dizer que estamos atrasados.

Tem pedidos para transformar os espaços de banho em espaços quase de convívio, por exemplo, com duas opções de chuveiro?

Antigamente a casa de banho tinha um lavatório, uma banheira, uma sanita e um bidé. Hoje pode ter não uma banheira mas uma base de chuveiro que permite dois banhos ao mesmo tempo, ou qualquer outra opção de banho. Tem normalmente dois lavatórios. E os seus espaços estão muitas vezes segmentados em compartimentos mais ou menos demarcados, que permitem a realização de tarefas por várias pessoas em simultâneo. Voltou-se à casa de banho do início do século, grande, mas com espaços segmentados. Embora também haja quem prefira espaços amplos com uma banheira em destaque no centro.

Os mecanismos utilizados nos espaços de banho cumprem as crescentes preocupações ambientais através de tecnologias de poupança energética e de água?

Actualmente já ninguém abdica dessas soluções versáteis. Os clientes pedem esse tipo de mecanismos à partida – redutores de caudal ou de temperatura e torneiras com temporizador, nos edifícios públicos -, pois sabem que a energia está cada vez mais cara e querem ter recursos que lhes permita poupar, não só na casa de banho como em toda a casa. Ninguém abdica destas questões infra-estruturais, que aliás estão legisladas. O conceito de sustentabilidade está-se a vulgarizar e ao nível dos fabricantes já há essa resposta.

E às preocupações ergonómicas para pessoas com necessidades especiais, os fabricantes também respondem bem?

Cada vez mais noto que a remodelação da lei, que está a ser introduzida, tem influência na construção de edifícios públicos. Quando se arquitecta um bloco de apartamentos, por exemplo, já há uma percentagem significativa da construção que tem de ter soluções de acessibilidade e casas de banho adaptadas a pessoas com deficiência. O mercado está a acompanhar esta evolução e todos os fabricantes têm gamas específicas para estes casos, com soluções homologadas de um grande rigor técnico. A nível estético talvez estas gamas fiquem um pouco aquém, provavelmente porque tantos requisitos técnicos impedem alguma desenvoltura de desenho. Mas encontram-se peças interessantes e perfeitamente enquadradas, nestas soluções específicas, que não ficam de modo algum à margem da concepção actual dos espaços.

Dos projectos que já concebeu, que casa de banho elegeria por ter sido um desafio ou uma realização profissional?

Todas. Como disse, dou a mesma atenção à casa de banho que dou à sala de estar ou ao quarto de dormir. Não podem existir parentes pobres numa obra. É claro que existe um entusiasmo ao desenhar algo pela primeira vez, ao experimentar novos materiais. As marcas sanitárias exploram linhas e conceitos oferecendo opções e ambientes diferentes. Os clientes já trazem as suas noções quando vêm discutir com o projectista, como sucedeu com o projecto do espaço de banho em vidro em que estou a trabalhar: trata-se de uma solução com enorme potencial, porque permite desenhar tudo, mas muito cara, naturalmente.

Acredita que a quebra na construção originada pela retracção no mercado está a aumentar a tendência para a remodelação de espaços existentes?

Isso seria muito desejável, mas eu para já não o sinto. Seria interessante reconstruir a cidade do Porto, por exemplo, qualificar o seu centro, e haveria muitas casas com um potencial enorme que se poderiam recuperar - restaurando ou reconstruindo. O mundo da recuperação é muito rico e tem alguma expressão. Mas não noto que essa expressão tenha aumentado com a crise económica. Já tive oportunidade de fazer projectos de recuperação muito interessantes, ainda que a maior parte dos meus trabalhos sejam casas e edifícios elaborados de raiz. É preciso dizer que os primeiros não são necessariamente mais baratos do que os segundos.

Qual é a sua visão para o espaço de banho do futuro?

Não projecto grandes alterações na sua concepção global. Existirão sempre alterações de detalhe, mas se fizermos a experiência de observar a casa de banho original da Casa de Serralves, construída nas três primeiras décadas do século XX, verificamos que tem muito a ver com as actuais tendências. Está-se a voltar aos espaços com grandes áreas e uma arquitectura mais exigente, que se distinguem pela nobreza de materiais. É uma evolução um pouco cíclica, que se dá depois de um período em que se banalizou muito não só a casa de banho mas todos os espaços da casa. Nos anos 70 e 80, os apartamentos eram todos semelhantes, com corredor e quartos. Hoje, com o foco de novo na arquitectura, as pessoas começaram a perceber - felizmente – que os espaços onde viviam podiam ter qualidade. Esta evolução tem raízes no passado, mas agora com materiais e recursos que não existiam. No futuro, o que eventualmente poderá aumentar é a exigência com a qualidade.

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